João Amílcar SalgadoORIGEM
No sul de Minas Gerais há duas famílias Vilela, uma proveniente de Serranos, antigo distrito de Aiuruoca, e outra proveniente de Santana do Jacaré, ex-distrito de Candeias. Curiosamente os Vilelas de Serranos se deslocaram na direção dos Vilelas de Santana do Jacaré, de tal maneira que bem cedo se casaram entre si e continuam a faze-lo até hoje. Podemos mesmo dizer que muitos Vilelas de Boa Esperança, Nepomuceno, Três Pontas, Coqueiral, Carmo da Cachoeira, Candeias e Campo Belo devem ser considerados Vilela & Vilela, ou seja, oriundos de ambas as linhagens. Daí é natural que se queira saber se essa gente era ou não parente em Portugal, já que vêm da mesma região norte, entre Porto e Braga. O primeiro Vilela de Serranos, Domingos Villela, nasceu na freguesia de Santa Maria das Palmeiras, próximo a Braga, cerca de 1708, enquanto o primeiro Vilela de Santana de Jacaré, Antônio Villela, nasceu na freguesia de São Martinho de Frazão (Penafiel), bispado do Porto, em (?)1739. Em futuro próximo esta questão estará esclarecida por Miguel Monteiro, ilustre historiador de Braga, especialista em migrantes lusos e meu fraternal amigo.
Se os Vilelas são gente ilustre em Minas e no Brasil, não o são tanto assim na história de Portugal, onde é raro o sobrenome Vilela, nenhum com título de nobreza. A palavra Vilela foi e é nome de lugar, freqüente na Galiza e em Portugal - por exemplo, o distrito de Vilela de Arcos de Valdevez - com o significado de diminutivo de vila, constante de documentos desde o século X. O mesmo acontece com a palavra Villèle na França (condato de Villèle), Como sobrenome, aparece inicialmente acompanhado da preposição de : De Vilela. A primeira pessoa de sobrenome Vilela com referência direta na história lusa é Rodrigo Anes Villela, já sem a preposição de, e sem data indicada, citado na publicação DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES.
O Vilela seguinte é o padre Gaspar Villela, que nasceu em Aviz, distrito de Portalegre (Alentejo), em 1524, e foi missionário no Oriente. Talvez tenha sido o primeiro ocidental a percorrer extensivamente todo o Japão, lá ficando por muitos anos, a ponto de escrever dissertações em língua japonesa. De acordo com a tradição de inteligência e cultura, bem como de inclinação para historiadores, entre os Vilelas, Gaspar Villela escreveu uma HISTÓRIA DA VIDA DOS SANTOS e deixou precioso acervo de cartas. Faleceu no ano de 1571, em Goa, onde certamente conviveu com três portugueses célebres: o poeta Luís de Camões, o escritor Fernão Mendes Pinto e o médico Garcia de Orta. Estamos estudando possível relacionamento direto ou indireto entre Gaspar Vilela e os jesuítas, especialmente com o luso Simão Rodrigues e o basco São Francisco Xavier.
VILELAS FORA DE MINAS
Já no Brasil há um Vilela com títulos nobres, não só de visconde mas de marquês: Francisco Barbosa Vilela, nascido no Rio de pai luso (de igual nome, nascido em Braga). Ficou com o sobrenome sempre oculto pela pomposa designação de marquês de Paranaguá; foi matemático e poeta e ocupou vários ministérios imperiais. O Vilela brasileiro, entretanto, mais conhecido não é o marquês e igualmente não é mineiro: é o senador e usineiro alagoano Teotônio Brandão Vilela, herói da chamada campanha das Diretas-Já, que levou à redemocratização do país, depois de vinte anos de ditadura militar. É irmão de Avelar Brandão Vilela, também um nome nacional por ter sido cardeal primaz do Brasil. Quando conheci a médica Rosana Vilela, filha de Teotônio, disse-lhe que ela se parecia com as moças Vilelas de Nepomuceno. Ela, que é minha amiga e como eu se dedica à pedagogia médica, respondeu dizendo que seu tio Avelar lhe havia dito que os Vilelas brasileiros eram todos uma única família. Seu irmão Teotônio Vilela Filho foi eleito senador e governador de Alagoas. Há Vilelas em outros estados nordestinos, mas os mais numerosos são aqueles nativos de Estados vizinhos a Minas, quase sempre ligados à diáspora de sulmineiros. São assinalados no Rio, São Paulo, Goiás e vale do rio Paraná. É digno de nota haver em Goiás uma cidade chamada Mineiros, da qual uma das famílias principais é Vilela e que desse Estado foi governador o político Maguito Vilela, ligado aos Vilelas mineiros de Ituiutaba.
VILELAS MINEIROS DE SERRANOS: VILELAS FIALHOS E VILELAS GARCIAS
O primeiro Vilela de Serranos, Domingos Vilela, é neto de João Vilela, morador na localidade de Galego da freguesia de Santa Maria das Palmeiras, e filho de Custódio Vilela, da mesma freguesia. Custódio casou-se ali mesmo com Felícia Cerqueira, em 1707, e dali Domingos, filho do casal, migrou para o Brasil. Um irmão de Domingos, André Vilela Cerqueira, migrou para Guaratinguetá, São Paulo, casou-se aí, em 1753, na família Fialho, mas seus filhos, os Vilelas Fialhos, vieram para Minas Gerais na direção de seus primos.
Já Domingos Vilela, casou-se, na mesma época de seu irmão, com Maria do Espírito Santo Garcia, filha de Júlia Maria da Caridade, uma das irmãs ilhoas, que vieram da ilha do Faial para Minas Gerais. Júlia casou-se na freguesia de Rio das Mortes Pequeno, pertencente a São João del Rei, com Diogo Garcia, também ilhéu, em 1724, e a filha Maria nasceu na mesma localidade, mas foi morar com o marido Domingos Vilela em Serranos, onde tiveram onze filhos que chegaram à idade adulta. Quatro destes permaneceram em Serranos, dois na atual cidade de Natércia, uma (Mariana) em Carmo da Cachoeira, e quatro (José, Maria, Teresa e Ana) na região compreendida por Boa Esperança, Campos Gerais, Coqueiral, Carmo do Rio Claro, Três Pontas e Nepomuceno, todas, na época, localidades pertencentes a Lavras. Dos descendentes destes últimos cinco é que vieram os principais entrelaçamentos com os descendentes dos Vilelas de Santana de Jacaré.
O texto básico para o estudo dos Vilelas de Serranos foi escrito pelo monsenhor José do Patrocínio Lefort, completado por José Guimarães. O rastreamento dos descendentes de André e Domingos Vilela (isto é, os Vilelas Fialhos e os Garcias Vilelas) é dificultado pelos numerosos membros da família que não conservaram o sobrenome Vilela, sendo mais difíceis casos como o do sub-ramo de sobrenome Corrêa. São descendentes que não conservam os sobrenomes Garcia ou Vilela, mas integram a numerosa prole do padre Manuel Gonçalves Corrêa (que, embora Garcia, recebeu, por exigência de Júlia Maria da Caridade, o sobrenome Gonçalves Corrêa, em homenagem ao avô materno). Muitos de tal prole matrimoniaram com primos Vilelas, por exemplo nas cidades de Formiga, Itapecerica e Nepomuceno.
VILELAS MINEIROS DE SANTANA DO JACARÉ: VILELA FRAZÃO, VILELA CARRIJO E ALVES VILELA
Nesta linhagem há dois casos em que os filhos ficaram com o sobrenome Vilela da mãe - a começar pelo primeiro deles Antônio Vilela, cujo pai era Antônio Velho e a mãe era Vilela. A filha de Antônio Vilela, Joana Francisca Rosa Vilela, casou-se com Manoel Alves Carrijo, cujos filhos passaram a ter o sobrenome Alves Vilela, sendo o Alves tirado do pai e o Vilela da mãe. Assim, os Alves Vilelas são de fato Vilelas Carrijos. Essa preferência pelo sobrenome materno pode ser explicada quando este for denotativo de cristão-velho, que assim ganha preferência em comparação com o sobrenome paterno, eventualmente denotativo de cristão-novo. Dessas observações se deduz que há descendentes de Antônio Vilela que não são Alves nem Carrijo, bem assim há Carrijos que não são Vilelas, se forem descendentes unilaterais de irmãos de Manoel Alves Carrijo. E há os Vilelas que assinam apenas Frazão, descendentes de outra filha de Antônio Vilela, Páscoa Angélica de Jesus Vilela, que se casou com Alexandre Gonçalves de Oliveira, fixados principalmente em Formiga. Já os descendentes de Joana Francisca Rosa Vilela, os Alves Vilelas, se fixaram em Campo Belo, Cristais, Candeias, Ituiutaba e Nepomuceno. Vale lembrar que um irmão de Manoel Alves Carrijo é co-fundador de Uberlândia e três irmãos Alves Vilelas são co-fundadores de Ituiutaba.
Antônio Vilela chegou das proximidades da cidade do Porto para a região centro-mineira de Congonhas do Campo, mas acabou vindo para o sul da província e encontrou já estabelecidos aqui os Vilelas de Serranos. Para distinguir o recém-chegado dos demais, este passou a ser cognominado de Frazão, derivado de sua localidade natal, e é assim que se auto-denomina em seu testamento. Faleceu em 1813. Sendo sesmeiro, casou-se em família importante de São João del Rei. Assim, Antônio Vilela Frazão, que deve ter migrado por ambição mineradora, se viu entregue à agropecuária, inclusive a agro-indústria de açúcar e cachaça, sem contudo deixar de ser proprietário de lavras no Rio Paraopeba. Algo semelhante aconteceu ao patriarca de Serranos, Domingos Vilela. As férteis terras sulmineiras, antes desprezadas por mineradores do norte de Portugal, passaram a ser valorizadas para a agropecuária no final do século 18, como resultado da chegada e da expansão de agricultores açorianos, sendo esta facilitada pelo extermínio de quilombos e o genocídio de quilombolas.
O texto básico para o estudo dos Vilelas de Santana do Jacaré foi escrito por José Gomide Borges, completado parcialmente por Denise Garcia e por anotações manuscritas preservadas por Marta Nair Monteiro. Já Luiz Junqueira Vilela Franco, em seu abrangente estudo, cobre os dois clãs Vilelas.
O MADEIRAME DE QUELUZ
Entre os Vilelas de Santana de Jacaré há a tradição apenas oral de que, após o término da construção do palácio de Queluz (réplica de Versailles, onde nasceu e faleceu nosso imperador Pedro I), Antonio Vilela Frazão teria oferecido e enviado o jacarandá rosa de suas terras da mata do Jacaré para revesti-lo. Infelizmente a casa da fazenda do Bom Jardim de Frazão não foi preservada mas pode ser vista em foto. Há também a tradição de que desta fazenda foi gado para a corte de João VI, quando houve escassez de carne para satisfazer o apetite dos cortesãos recém-chegados.
ALVES VILELAS DE NEPOMUCENO E ITUIUTABA
Como foi dito, Antônio Vilela Frazão teve uma filha que se casou com Manoel Alves Carrijo de que resultou a família Alves Vilela. Um dos filhos de Manoel Alves Carrijo recebeu o nome de Manoel Alves Vilela, o qual se casou várias vezes, sendo a primeira esposa Ana Umbelina e a última Laura Gontijo Gomide. Quando faleceu, 32 filhos teriam comparecido ao velório, sendo que Pedro, o mais velho, podia ser avô do caçula Joaquim. Três dos primeiros filhos de Manoel Alves Vilela foram para Ituiutaba. Dois vieram para Nepomuceno. Destes, Francisco Alves Vilela deu origem aos Vilelas Limas. O outro era o caçula Joaquim Alves Vilela, que foi trazido pela família do irmão bem mais velho, para constituir em Nepomuceno um ramo também Lima, mas que conservou o sobrenome Alves Vilela.
[A SEGUIR PORMENORIZA-SE A ÁRVORE GENEALÓGICA, COM TODOS OS NOMES ATÉ AGORA PESQUISADOS]
O autor é neto de Joaquim Alves Vilela. É também professor titular de Clinica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Fonte : http://jamilcarsalgado.blogspot.com/2008/06/genealogia-da-famlia-alves-vilela.html